TEATRO da TERRA
criação artística para todos

ROMEU E JULIETA
de William Shakespeare
encenação MARIA JOÃO LUÍS
com
AFONSO MOLINAR, BRUNO AMBRÓSIO, CÁTIA NUNES, FILIPE GOMES,
INÊS CURADO, JOSÉ LEITE, MIGUEL SOPAS, PAULO LAGES,
PEDRO MOLDÃO, RODRIGO SARAIVA, SÍLVIA FIGUEIREDO, TADEU FAUSTINO
tradução e adaptação FERNANDO VILLAS-BOAS cenografia ÂNGELA ROCHA criação musical e ilustração JOÃO LUCAS
figurinos JOSÉ ANTÓNIO TENENTE desenho de luz PEDRO DOMINGOS
24 NOVEMBRO
SEXTA, ÀS 21H00
AUDITÓRIO MUNICIPAL
FÓRUM CULTURAL DO SEIXAL
ENTRADA LIVRE, SUJEITA À LOTAÇÃO DA SALA
Em Verona, duas famílias rivais, os Montéquio e os Capuleto, assistem ao enamoramento dos seus filhos. Apesar das disputas familiares, Romeu e Julieta encontram-se e apaixonam-se profundamente. Desafiam as convenções e o ódio que há décadas separa as suas famílias, casam secretamente, mas uma série de trágicos equívocos culmina na morte prematura de ambos, selando o seu amor como a grande história de paixão amaldiçoada.
Com uma linguagem contemporânea e uma estética visual ousada, ROMEU E JULIETA, explora temas intemporais como o amor, a violência, o ódio e a reconciliação. A intensidade da paixão entre os protagonistas, refletida em interpretações polifacetadas, ampliam a energia e regeneram a violência contida, no conflito entre as famílias.
Apesar de não abordar directamente a luta de classes, é possível interpretar alguns elementos como um reflexo de tensões, rivalidades, ou conflitos sociais na divisão entre Montéquios e Capuletos. Ao criar um mapa emocional intenso e provocativo, lembra-nos a universalidade do sentimento humano e do poder transformador do amor, mesmo em tempos sombrios e complexos como os nossos.
ROMEU E JULIETA é uma reflexão social e política, que destaca, sobretudo, a necessidade de superar a diferença e o preconceito, e a importância de encontrar um terreno comum onde a paz possa prevalecer.


ROMEU E JULIETA
de William Shakespeare
SEXTA, 24 NOVEMBRO | 21H00
AUDITÓRIO MUNICIPAL DO FÓRUM CULTURAL DO SEIXAL
ENTRADA LIVRE, SUJEITA À LOTAÇÃO DA SALA
encenação MARIA JOÃO LUÍS
com
AFONSO MOLINAR, BRUNO AMBRÓSIO, CÁTIA NUNES, FILIPE GOMES, INÊS CURADO, JOSÉ LEITE, MIGUEL SOPAS,
PAULO LAGES, PEDRO MOLDÃO, RODRIGO SARAIVA, SÍLVIA FIGUEIREDO, TADEU FAUSTINO
tradução e adaptação FERNANDO VILLAS-BOAS cenografia ÂNGELA ROCHA criação musical e ilustração JOÃO LUCAS
figurinos JOSÉ ANTÓNIO TENENTE desenho de luz PEDRO DOMINGOS
assistência de encenação FILIPA LEÃO segunda assistente CARINA R. COSTA fotografia DANIEL NUNES
produção executiva ARTUR CORREIA assistência de produção FILIPE GOMES direcção de produção PEDRO DOMINGOS
produção TEATRO DA TERRA M/12
co-produção CASA DAS ARTES DE FAMALICÃO e NOVO CICLO ACERT
SOBRE A OBRA
Para apreciarmos a extraordinária inversão de valores que a peça Romeu e Julieta trouxe, basta vermos uma versão poética contemporânea da mesma história, colhida em novelas italianas, à qual Shakespeare deitou mão para construir o seu enredo. The Tragical History of Romeus and Juliet (1562), de Arthur Brooke, não entroniza os dois adolescentes e o seu amor impaciente, como faz a versão de Shakespeare, no que ficou a ser a fonte, afinal, do culto da juventude que ainda está nos nossos hábitos e que esta peça inaugurou (R&J é de 1595-96, uma distância que por si só mostra a popularidade do poema). Pelo contrário: o conto em verso de Brooke oferece várias lições: o autor toma o partido dos pais, naturalmente, à luz dos costumes da época, e dá o nome de “desejo desonesto” à força que une o par, além de tratar Julieta como “donzela cheia de vontades” - a mesma ofensa com que o pai Capuleto castiga a filha no drama de Shakespeare (e nesta versão portuguesa), no discurso violento em que ameaça deserdá-la, caso não case com o noivo escolhido.
Desta fonte (e de outras semelhantes, na prudência com que tratam o fogo juvenil), Shakespeare extraiu uma história radicalmente diferente. Desde logo, três personagens menores são aumentadas na peça para se tornarem forças no drama: Mercúcio, a Ama e Tebaldo, todos, de algum modo, anti-heróis, inimigos daquela união em nome da camaradagem masculina, dos limites da vontade feminina, e, por ordem e por fim, do respeito pelos fervores tribais das famílias.
Shakespeare mudou também a ordem e a importância relativa das peripécias, acrescentando outras, para criar uma precipitação irresistível. O tempo da acção encolhe para poucos dias, em vez dos meses da narrativa tradicional, e a união dos amantes cabe numa só noite, já sob a sombra da separação inevitável.
As mortes de Romeu e Julieta já não serão apresentadas como os justos castigos da sua irracionalidade e rebeldia (um termo muitíssimo negativo no vocabulário da época, e no do próprio Shakespeare).
Para elevar aquela união perturbadora da ordem daquela Verona imaginária, Shakespeare funde arrojadamente a sua paixão (e da sua época) pelo soneto de gosto italiano, com aquilo a que se pode chamar o princípio do teatro como espectáculo verbal, que o teatro do nosso tempo tantas vezes descura, mas que fazia a regra do teatro isabelino: um teatro para ser ouvido, ainda mais do que visto. Esta peça, por via da sua inspiração na fonte lírica italiana, mais exactamente petrarquista - a mesma de Camões -, junta ao enredo tenso uma exibição de luxo verbal que nunca se prejudicam mutuamente em cena. O verso carregado de lirismo serve para compactar emoções, dar expressão aguda a traços do carácter das personagens, e assim ajudar à construção de um tempo progressivamente comprimido. E aquela coincidência literária deve ser e pode ser plenamente aproveitada. É uma crença desta versão, a possibilidade da imitação da dicção lírica original. Para uma ilustração deste processo basta a cena do encontro, no baile, entre Julieta e Romeu enquanto desconhecidos, sendo que as deixas que vão trocando até se consumarem os dois beijos trocados constituem, em si mesmas, um soneto rimado, em que os versos regem a pauta de movimentos contidos. “É um livro, essa boca”, diz Julieta, num elogio à delicadeza com que Romeu soube responder ao desafio poético.
Esta versão acredita, portanto, no espectáculo verbal, e no poder do seu ritmo em toda a máquina cénica.
Fernando Villas-Boas